segunda-feira, 8 de março de 2010

A Catástrofe

Sempre senti grande respeito pelas diversas manifestações públicas perante todas as formas da tragédia, a começar pelo Live Aid, em 1985, quando um mega concerto teve como essência o erradicar da fome em África. Do Live Aid guarda-se o significativo momento mas para além do tributo público que ainda hoje se presta às bandas participantes a verdade é que, um quarto de século mais tarde, continua a morrer-se de fome em África e já nada fazemos por isso. A menos que alguém volte a chamar-nos a atenção. Recordamos a essência dos concertos mas desviamo-nos do fundamental, que é precisamente a prestação do auxílio em si. Todos se lembram de U2, Queen, Madonna, etc, hoje cada qual com mais dois milhões de visitantes no you tube, mas já ninguém se recorda do número da linha telefónica que a organização do evento colocou para os espectadores darem a sua contribuição para África, e se essa linha ainda é válida ou não. Provavelmente, o número não será o mesmo mas neste momento o telefone ainda está à espera de tocar, o nível de urgência perante o horror é igual – ou cresceu. Ontem como hoje a ideia de auxílio através de todas as formas de arte é muito valorizada e diversas figuras públicas continuam envolvidas em causas. Assistiu-se a isso quando George Clooney organizou um concerto a favor das vítimas do Haiti, agora a tragédia da Madeira também não passou sem um magnífico apelo com a correspondência esperada. Mas a catástrofe global é crescente, atormenta em todas as suas formas que em breve já não haverá espaço para nos ocuparmos da ajuda a quem vive a tragédia. Possivelmente, nem teremos tempo sequer para discar um número de telefone. Os desfavorecidos serão em número tão superior aos eleitos que todos seremos obrigados apenas a sobreviver, nenhum Live Aid diário nos há-de valer.

CV

Artista Plástico

Redigido ao som de "Song to the Siren" - This Mortal Coil

sexta-feira, 5 de março de 2010

O (meu) joga bem

O sorriso corre por todas as divisões de um apartamento transformado em enorme «quarto dos brinquedos». Desarrumação? Novo mundo! Família. Com ele veio a luz e a alegria, o lenitivo para dias saturantes ou instantes enfadonhos. A vida chegou com a sua aparição. E por cá ficou. Ainda bem.

Aos primeiros passos seguiu-se o risco. Subir e descer da cama é desporto radical, correr é devaneio, pular é trapézio sem rede. Aos poucos, a bola. Teimosamente com as mãos, que tudo tem de ser tangível para experimentar formas e texturas. «Põe no chão», filho. «A bola é para jogar com os pés». Mensagem recebida e processada, acção quase imediata. Estilo peculiar. Descoberta. Treino.

Hoje, finta triciclos, construções de Lego e Rucas de peluche. Tem estilo. É Maradona e Madjer, mas com mais qualidade. E não tem vícios. Passa a bola e procura o espaço vazio. E não pede penálti quando se desequilibra. Ergue-se e prossegue. Mas o melhor é o grito que acompanha cada disparo. «PORTÓ!!». O pai adora, rebola no orgulho; a mãe franze o sobrolho, mas defere a cena, embevecida. É o (meu) joga bem, (que me) põe no chão. Aturdido.

Jaime
Jornalista


Redigido ao som de "Absolute Beginners" - David Bowie


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010



Missão Cumprida.... Contra tudo e contra todos......

Nuno
Fotógrafo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nuno
Fotógrafo

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Miúdo!

Curiosamente, (ou talvez não!) a expressão “joga bem, põe no chão”, é parte do imaginário da minha infância e (primeira) adolescência... Sim! Quem de nós nunca ouviu o (futebolístico) “lugar comum”, ao qual me atrevo a acrescentar (se a memória não me falha) a (carinhosa!) palavra: “miúdo”... Assim soa mais familiar: Joga bem! Põe no chão, miúdo!..
Recordações (ou recalcamentos!) de uma (tão frustrante, quanto frustrada) caminhada pelo mundo (prático) do Futebol... Peço desculpa pelo desabafo (miúdo!)... Da (medíocre) prática, poderá ter nascido o (nulo) interesse...
Se jogar bem é pôr no chão (miúdo!), jamais jogarei bem este “jogo da bola”... Nos meus (e de uma imensa minoria) “jogos da bola”, manter (entre passes, dribles, remates ou lançamentos) a bola no ar é objectivo central (miúdo!)..
Como em tudo na vida, também aqui (miúdo!), a excepção tem lugar... Numa das vertentes dos (meus/nossos) “jogos da bola”, pôr no chão (do adversário) será jogar (muito) bem!..
Não estará na essência de todos os “jogos da bola”, a prática desportiva que, em si, encerra intensos momentos de fruição, partilha, amizade, companheirismo... Em suma, (miúdo!), de capitais vivências sociais que, no seu conjunto, se revestem de incalculável valor, no crescimento do “eu” que habita o (miúdo!) que há em “nós”...
Num mundo (exageradamente) futebolístico e marcadamente necessitado de “jogo da bola”, assumo (miúdo!), a minha (incompreendida) indiferença pelo Futebol: Esse social fenómeno que, no meu modesto entendimento, mais não deveria ser que (puro) “jogo da bola” (miúdo!)...

João
Professor

Redigido ao som de “Crystalised” - The XX




segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

2010 aos… Pés!

Guardiola, Mourinho, Vilas Boas e Figo
abrem o ano a falar contigo.
Do futebol «in vivo» que o top requisita
Alargas a consciência à indecência,
do «in vitro» parasita!

Organizas-te na «organização do Rodrigo».
Acolhem-te os dizeres do Figo, Vilas Boas, Mourinho e Guardiola.
Vais às aulas no sintético, arrecadação…
abrindo o ouvido?
Lê então, os textos…. sem «teias-de-aranha» na tola!

«O futebol não é uma ciência exacta». Grande lata!
A sociedade é uma ciência exacta? Sem sentido.
A sociologia exacta ou não, cientificamente a retrata.
Assim é o jogar de nível elevado… construído!

Categorias, categorização… conhecimento ou não!
Ajusta-se a categorização, ao objecto em questão?
Objecto no sentido científico objectivável
o do futebol, é um tipo de jogar… e treinável!

Foi no Porto, no Chelsea… é no Inter em Milão
seis, sete vezes o mesmo fado, ganhar em qualquer lado!
Cientificado o treinar? Repetitivamente pois, então?
Sinta-o ou não, o pulhiticamente correcto
com agrado!
Guardiola não sonhava sequer,
o que veio a acontecer,
no Jorge Maciel fazia, do Guardiola apologia!
Entretanto bitates e sorrisos….
assim Vilas Boas os vai ter
que fazer? Deixar o acontecimento acontecer….
Sabedoria!


Vitor
Professor

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Pássaro cego da Nancy

O jogo deve ser emotivo, mas sem azedume, nem violência gratuita. No balneário há que manter toda a tranquilidade...
O jogo deve ser justo sem artimanhas, sem apitos coloridos no exterior das 4 linhas. A justiça não pode prescrever a pedido, e o segredo não se pode esfumar em escutas...
O jogo deve fomentar a paz e a solidariedade entre os povos, os tiros de Cabinda são ecos de intolerância e fatalidade. Por no chão é também chamar a razão, no ar só mesmo os pássaros cegos da Nancy!

Texto redigido ao som de "Pássaro Cego" - Mais do que um disco, o Pássaro Cego é um projecto multidisciplinar onde se reúnem, em formato de livro, a música de Manuel Paulo, as letras de João Monge, a voz de Nancy Vieira e as pinturas de João Ribeiro, que ilustrou cada tema propositadamente. As letras/músicas do Pássaro Cego têm um fio condutor, como se de um argumento se tratasse, que vai levando o leitor/ouvinte ao longo das ilhas sobrevoadas pelo pássaro. O pássaro, sendo cego, orienta o voo guiando-se pelos seus sentidos e vai identificando as várias ilhas que sobrevoa. Assim, plana sobre a "Ilha Mãe" ", a "Ilha da Fé", a "Ilha Babilónia", a "Ilha da Saudade" ou a "Ilha dos Amantes". A cada uma das dez ilhas corresponde uma canção, para além de um tema que se intitula "Pássaro Cego".
Duarte
Veterinário


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Precisamos de ilusão

"Joga bem põe no chão"… pelo ar é mais directo, porquê pelo chão? É mais trabalhado, a certeza acresce, a segurança ascende, ou será que para voar está o medo de aterrar? A dominação enquanto factor securizante depende das nossas competências psicomotoras – estas deixam-nos apenas o terreno, a matéria, como base das nossas intenções e das nossas certezas, o etéreo, o ar que não se agarra foge-nos das mãos (neste caso dos pés).
No nosso manancial corpóreo o ar é apenas um sonho, sonhos que nos fazem temer (sonhamos que estamos a cair no vazio…) e vibrar (sonhamos que voamos, livres…).

Por outro lado, a técnica ou a táctica aérea não se pode desenhar, como esquematizar no vazio, como planear? As linhas fogem-nos, os sectores esfumam-se, perdemos o controlo. O controlo é o factor decisivo – quando não se controla dizemos “isto é futebol, o futebol é assim…” claro que é, é um controlo descontrolado, é uma ordem no caos, daí todos os jogos serem diferentes, ainda que parecidos, as combinações e movimentações são inumeráveis – lembro aqui Proudhon, sob o comando de Bonaparte, que dizia aquando do planeamento das batalhas, das frentes de combate, “Caro Bonaparte, a fecundidade do inesperado é grandemente superior à prudência do estadista”, traduzindo, a melhor táctica, os melhores processos também, podem levar ao êxito, à excelência, à vitória, mas também não.

Quando na afirmação veemente “joga bem põe no chão” não encontramos saída, o ar é a solução, “chuta para a frente, mete lá, põe em cima”, rápido como se não houvesse amanhã, porque o êxito deriva daqui e já não na ordem inicial. Na desordem reina muitas das vezes a solução, tal é a importância da paixão que segundo dizem, cega a razão, mas é capaz de resultados extraordinários, ainda que ambivalentes.

Eu diria, também, “joga bem põe no chão”, mas não é definitivamente a solução, precisamos de ilusão!"


Texto redigido ao som de "Overcome" - Creed

Angelo
Psicólogo


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Liberdade e Ritual

Comecemos bem lá trás, na defesa (que se quer certa e segura). Foi a nossa condição de humanos e o santossacro livre-arbítrio com o qual fomos equipados, que nos permitiu evoluir, de estádio em estádio, até à suprema e actual circunstância. O soltar das amarras instintivas permitiu-nos racionalizar grande parte da nossa existência e aquela pequena parte que não controlámos e/ou não alcançámos, desde sempre remetemos para o sagrado. Essa aparente liberdade, na verdade, esteve sempre condicionada pelas instituídas regras dos ritos, que a cada passo, a cada passagem, impunham determinados comportamentos físicos e cambiantes preceitos morais.
Continuemos no presente, bem no meio-campo (que se quer racional, onde se cogita e mastiga todo o conhecimento adquirido e se exercitam novos rasgos). Existem expressões de liberdade, várias formas de a exteriorizar, mas de entre todas elas a que mais se aproxima do ideal de liberdade será o jogo. E mais, o nirvana dessa liberdade será o jogo.
A vivacidade e a graça estão originalmente ligadas às formas mais primitivas e simples do jogo. É neste que a beleza do corpo humano em movimento e liberdade atinge seu apogeu. Nas suas formas mais complexas, o jogo está saturado de ritmo e de harmonia, que são os mais nobres dons da percepção estética que o homem dispõe. São muitos, e bem íntimos os laços que unem o jogo e a beleza.
No entanto, o jogo é uma função da vida, mas não é passível de definição exacta em termos lógicos, biológicos ou estéticos… eu não consigo, mas façam o favor…
Antes de mais nada, o jogo é uma actividade voluntária. Basta esta característica de liberdade para afastá-lo definitivamente do curso da evolução natural.
Quer a criança, quer o animal são levados ao jogo pela força de seu instinto e pela necessidade de desenvolverem suas faculdades selectivas, físicas e psicológicas, naquilo que se espera que seja o seu correcto desenvolvimento ontogenético.
Seja como for, para o indivíduo adulto e responsável o jogo é uma função que facilmente poderia ser dispensada, é algo supérfluo. Só se torna uma verdadeira necessidade na medida em que o prazer por ele provocado o transforma num desejo. Será possível, em qualquer momento, adiar ou suspender o jogo? Delicado (o estado do terreno terá que estar mesmo impraticável).
Jamais é imposto pela necessidade física ou pelo dever moral e nunca constituí uma tarefa, sendo sempre praticado nas horas de ócio. Obrigação e dever apenas quando constitui uma função cultural reconhecida, como no culto e no ritual e esqueçam essa história de haver profissionais do jogo – esses são os batoteiros, entretanto perseguidos pelas forças de segurança (e da moral).
Passemos ao futuro, bem lá para a frente (que se quer criativa, espontânea e assertiva). Venha o que vier, com maior ou menor tecnologia, maior ou menor espontaneidade, o jogo sobreviverá e a sua maior qualidade, desconfio, continuará a ser a liberdade de pôr a bola no chão e o ritual de ter que a jogar bem.

"Agradeço a colaboração de Johan Huizinga que, num outro tempo, foi um exímio jogador de meio-campo; agradeço também a inspiração para este ritual cristalizante que é a escrita a este grande defesa, que apesar de tudo consegue chegar criativamente bem à frente"

Luis
Antropólogo

Texto redigido ao som de "Chocolate Jesus" - Tom Waits



Foto da Semana

Nuno
Fotógrafo

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A verdadeira verdade

Admito as minhas dúvidas sobre a introdução das novas tecnologias no futebol. Da mesma forma que confesso que o estado das “coisas” tenderia a melhorar com a diminuição da margem de erro nos lances que marcam uma partida ou com o desmascarar dos jogadores que falseiam os próprios lances do jogo onde intervêm.
Não tenho dúvidas que grande parte das estrelas de hoje – e estou a falar do futebol português – poderiam não ser tão consagradas se os lances que “escavam” com ferramentas do vício e da mentira fossem desmentidos por imagens sujeitas a verificação por árbitros durante os jogos.
Por outro lado, e atendendo ao cenário do que se vem verificando, onde os mesmos lances são escalpelizados por alegados e propalados especialistas, tenho dúvidas se o decorrer dos jogos não seria prejudicado por decisões demoradas e, ainda assim, de dúbia análise.
Façamos um intervalo naquilo que não me convence. E passemos à campanha “Pela Verdade Desportiva”, que tem ganho espaço nos noticiários, mas que mais não é que um golpe de comunicação para engrandecer uma personalidade e que serve os interesses de muitos que a falseiam no seu quotidiano desportivo. Sublinho, a propósito, que não ponho em causa o valor ou a competência de Rui Santos enquanto jornalista ou comentador, mas sim os meios que tem usado para atingir o seu fim.
Na semana passada, vi jogadores do Benfica e do Sporting na comitiva “oficial” que se deslocou à Assembleia da República, em romaria pela “Verdade Desportiva”. Digo eu, que até tenho uma noçãozita de História de Portugal, que todos deveriam ter imitado Egas Moniz e levado ao pescoço o nó da forca. Sim, porque não vi lá nenhum que tivesse um currículo imaculado no que diz respeito à tentativa de iludir os árbitros, de falsear lances na grande área ou de reconhecido valor em termos de fair-play. O que vi foram excelentes praticantes da modalidade que em vez de fazerem mea culpa, o que mais serviria os interesses do futebol nacional, apareceram estilo virgens ofendidas na própria honra.
Apeteceu-me que o político de serviço (embora o politicamente correcto impedi-lo-ia, por uma questão de fair-play à portuguesa) lhes tivesse gritado: que atire a primeira pedra quem nunca se mandou “para a piscina” num campo de futebol…
“Verdade Desportiva” sim. Novas tecnologias no futebol, também sim. Mas se no primeiro caso é preciso ter outra gente que credibilize o movimento (Rui Santos aceita tudo o que é bicho careta, desde que seja conhecido no meio), já no segundo é preciso ter gente que garanta a real verdade desportiva.
Mais depressa se resolveria a verdade desportiva em Portugal se a UEFA aceitasse a simples ideia de criar uma bolsa de árbitros, com juízes internacionais, de todos os países, e tornasse possível que um francês apitasse um Benfica-FC Porto ou um alemão dirigisse um AC Milan-Inter…
Penso que a melhor prova é sentir-se verdade desportiva numa Champions League. E alguns clubes portugueses (poucos, nos últimos anos) experimentam-na e sabem conviver com ela. O problema é que outros acham que a verdade desportiva é apenas mais uma ferramenta para os ajudar a vencer… Estão errados. A verdade desportiva é apenas o cumprimento das regras. E isso, nenhum emblema pode reclamar para si, em exclusivo. Isso é falsear!

Texto redigido ao som de "Loverman" - Nick Cave, 1994

"Loverman, o rapaz adorável... Quando o homem quer ser visto como puro e isento enquanto o seu próprio esforço se perde nos meios e fantasias que o acompanham."

António
Jornalista




quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Podemos jogar “sutebol”?

São três contra uma. Por isso todos os dias há jogo em casa. Ao chegar, a primeira coisa que fazem é vestir o equipamento e começar a “jogar à bola”, seguindo criteriosamente as regras do jogo.
Enfim, um jogo disputado a sério, com direito a relato e comentários, a taça e gritos de vitória. Acabam despidos, depois de tanto transpirar e contentes com o seu desempenho, com o seu jogar bem!….
E de nada me valeu ralhar por causa dos estragos. Quando o pai era pequeno também era assim. Julgo que agora também terá que ser.
E eu deixei-me ir e, sem dar por isso, fiquei apegada ao jogo.
Vamos juntos aos jogos do F.C. Porto. Desiludimo-nos, abraçamo-nos, choramos e damos gargalhadas, assustamo-nos e compartilhamos bolos, cachorros e sumos. Mas, e, especialmente, somos felizes…

Texto redigido ao som de “No Ceiling” - Eddie Vedder
"Pela força e esperança que transmite."
Maria
Advogada


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Jogar à Pedroto


Jogar bem e ganhar é a ambição de todos os adeptos de futebol. Não há nada que possa encher mais o ego dos adeptos do que comemorar a vitória da sua equipa depois de um jogo bem conseguido, em que ao resultado se junta a justiça moral do que foi mostrado no campo. Em Portugal há uma tradição de jogar bem, à antiga portuguesa, mas que infelizmente está a ficar fora de moda.
E se houve um “dono” desse futebol esse foi José Maria Pedroto, o treinador que encontrou na bola a sua primeira e principal aliada e num determinado tipo de jogador evoluído tecnicamente a base para executar um futebol apoiado, de toque curto, mas profundamente ofensivo.
Passados 25 anos sobre a sua morte vale a pena reflectir um pouco sobre os princípios de jogo de Pedroto, para chegarmos inevitavelmente à conclusão que o mais bonito futebol do mundo se baseia precisamente no conceito de que mais do que controlar o espaço é preciso é controlar a bola.
As equipas de Pedroto não tinham segredos, a defesa de quatro jogadores jogava à zona, na altura uma raridade quase radical, mas era no meio-campo e no jogo ofensivo que o seu futebol tinha assinatura, com a equipa a circular a bola, quase sempre com passes curtos e a penetrar a defesa adversária com tabelinhas e com combinações sucessivas. E se a jogada não resultasse tudo recomeçava de novo. Sempre com a bola e sempre com o adversário a desejar tê-la, mas poucas vezes a consegui-lo.
Para este futebol, muito exigente do ponto de vista técnico, Pedroto necessitava de jogadores evoluídos e foi com atletas como Oliveira, Frasco, Gomes, Duda, Jaime Magalhães, Jaime Pacheco, Ademir, etc, que o futebol de Pedroto atingiu os melhores momentos, conquistando títulos e a massa adepta do FC Porto, que via a equipa ganhar e jogar bem.
Ao futebol português e aos jogadores nacionais faltava a qualidade de trabalho e até condições sociais que só o pós 25 de Abril proporcionou e Pedroto desapareceu ainda antes do futebol português se afirmar no plano internacional. As bases estavam no entanto lançadas e com uma carreira cheia de altos e baixos Pedroto jamais traiu o seu sistema de jogo e jamais se tornou num técnico “resultadista” em que o mais importante é vencer, mesmo que para isso seja preciso sacrificar o bom jogo.
Pedroto morreu e o FC Porto transformou-se num clube vencedor, umas vezes com um futebol próximo da herança do mestre, outras com um futebol em que o mais importante era o resultado, mas a verdade é que os títulos mais sonantes, os internacionais, foram conseguidos com modelos próximos da herança de Pedroto, em especial nas vitórias na Taça dos Campeões, em Viena, com Artur Jorge em 1987, e na Taça UEFA, em Sevilha, com José Mourinho em 2003, o que quer dizer alguma coisa.
Desgraçadamente, não há em Portugal neste momento quem adopte esta fórmula de jogo e em pleno século XXI as equipas do belo jogo são a selecção espanhola, primeiro de Aragonês e agora de Del Bosque, o Barcelona, de Guardiola, e o Arsenal, de Wenger.
O “tico-tico” espanhol do Euro 2008 e da fase de qualificação para o Mundial da África do Sul enterrou definitivamente a “fúria” como primeira qualidade do futebol espanhol e mostrou uma equipa apaixonada pela bola, com jogadores fisicamente banais, mas tecnicamente muito evoluídos, como Xavi, Iniesta, Torres, Silva, Villa, Fabregas… E acima de tudo mostrou que é possível ganhar a jogar bem, ganhar a ter a bola, a assumir o jogo, seja quem for o adversário. Menos de um ano depois o planeta vergou-se ao mesmo futebol, agora interpretado pelo Barcelona de Guardiola, capaz de vencer as seis competições em que interveio.
Culturalmente não há muita diferença entre o jogador espanhol e o jogador português e durante décadas eram os portugueses que mais e melhor cultivaram o “tico-tico”, mas a verdade pura e dura é que hoje esse é um património muito mais espanhol do que português, onde nos últimos anos os treinadores investiram essencialmente na rigidez táctica, provavelmente porque não confiam totalmente nos jogadores e odeiam não ter o controlo absoluto sobre tudo o que acontece no relvado.
Finalmente, o Arsenal, próximo adversário do FC Porto na Liga dos Campeões. Wenger não ganha nada há vários anos, mas continua sem ceder um milímetro e continua a fazer o Arsenal praticar o melhor futebol da Grã-Bretanha e que só em Espanha encontra rival. Para quem tanto critica o romantismo de Wenger convém recordar que exactamente com o mesmo futebol conquistou a Premier League sem uma única derrota, o que é façanha considerável.
Aconteça o que acontecer na eliminatória com o tetracampeão português e a mês e meio de distância não é difícil antecipar que só um FC Porto que queira ter a bola (para o Arsenal não a ter) poderá discutir a presença nos quartos-de-final.
É por tudo isto, e com certeza por muito mais, que o futebol de Pedroto continua vivo e actual e ninguém como o FC Porto tem a responsabilidade de não o esquecer.
E caso nunca tenham reparado, quem joga bem ganha muitas mais vezes. Esse era também o charme de Pedroto.

Texto redigido ao som de "This Charming Man" - The Smiths, 1983

"Escolhi esta música por ainda ser contemporânea de Pedroto, pelo título, porque os Smiths, também já desaparecidos, me acompanham pela vida, tal como o desejo de voltar a ver o FC Porto jogar “aquele” futebol, que verdadeiramente só voltei a ver com Artur Jorge e José Mourinho. Já agora, também a escolhi porque ilustra um lado alternativo que a cidade do Porto sempre teve, seja no gosto musical, seja no futebol…"
Francisco
Jornalista


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Um Expressar de Sensações

Na minha total incapacidade de, em prosa, expressar emoções e sensações, ousei recorrer ao meu restrito e diversificado clã de amigos, única forma de justificar e fundamentar cabalmente esta aventura agora encetada.
Os seus patamares de talento são, indubitavelmente, garante de textos e temas mágicos, capazes de nos elevarem para formas superiores de um sentir real imaginário de “estórias”, do tudo e do nada, sobre o singular universo do futebol….
O primeiro capítulo do fórum será sobre o “Joga Bem, Põe no Chão!”.
Demonstrativa mensagem utilizada por muitos dos agentes que estiveram, estão e estarão associados a esta deliciosa lide…. Acredito que perpetuará um conceito que, para mim, ainda é muito dúbio….

João Luis